Reportagens

Com eleição de Lula, governadores bolsonaristas buscam sobrevivência política 68fm

Na Amazônia Legal, governadores do Acre e Mato Grosso fazem acenos à Lula, enquanto os de Roraima e Rondônia se mantêm fiéis ao bolsonarismo

Fabio Pontes ·
9 de novembro de 2022 · 3 anos atrás

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República reconfigura a correlação de forças entre os governadores da Amazônia Legal e o Palácio do Planalto. Hoje, a maioria dos governadores está aliada ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua política de enfraquecimento da preservação da floresta, priorizando suas agendas para o agronegócio. 

Com a vitória de Lula, e sua sinalização de reconstruir a política ambiental brasileira, a tendência é de quase um alinhamento automático dos atuais governadores bolsonaristas com o governo petista.  Essa aproximação se faz necessária ante a grande força que o governo federal exerce na região, com os estados sendo dependentes das transferências de recursos da União.

A tendência é a de que muitos destes governadores abandonem a canoa bolsonarista antes mesmo de 31 de dezembro. Os gestores do Acre, Gladson Cameli (PP), e de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), já realizaram acenos ao presidente eleito. Ambos fizeram campanha para Bolsonaro e são ligados ao agronegócio. 

Se em 2018 Gladson Cameli fez uma campanha tendo como promessa regras ambientais mais frouxas para “destravar” o agronegócio, em 2022 o governador reeleito do Acre faz um discurso mais ambientalmente sustentável. 

Ao gravar um vídeo para anunciar sua participação na conferência do clima do Egito, a COP-27, Cameli falou sobre compromissos em combate ao desmatamento ilegal. Durante o primeiro mandato, o Acre registrou níveis recordes de desmatamento e queimadas. Com sua reeleição e o retorno de Lula ao Planalto, Cameli tenta se apresentar com uma nova roupagem. 

Já outros bolsonarismo mais radicais continuam irredutíveis. É o caso do governador reeleito de Rondônia, coronel Marcos Rocha (União Brasil). Mesmo com a derrota de Bolsonaro, um de seus primeiros gestos foi postar uma fotografia ao lado do atual presidente. Sua gestão  na área ambiental seguiu a mesma implementada por Brasília desde 2019. 

O silêncio também foi a atitude adotada por Antônio Denarium (PP), de Roraima. Em meio às manifestações golpistas que não aceitam  o resultado das eleições presidenciais, Denarium apenas pediu o respeito à vontade dos eleitores expressa nas urnas, mas sem condenar  os atos antidemocráticos.  Reeleito no segundo turno, Wilson Lima (União Brasil), do Amazonas, também se manteve mudo. 

O comportamento dos três não se sabe até quando será mantido, mas o isolamento pode ser visto como um “suicídio político” numa região altamente dependente dos recursos liberados por Brasília. Ao ficarem em silêncio diante da vitória do PT, estes governadores tentam manter apoio político local diante da força no bolsonarismo no eleitorado. Em Roraima e Rondônia, por exemplo, Bolsonaro ficou com 70% dos votos válidos. 

Indisposto a não ficar sozinho, Marcos Rocha decidiu participar da CO27 junto com outros governadores da Amazônia. Denarium preferiu ficar em Roraima para participar e organizar a feira agropecuária do estado, a Expoferr. 

A volta do MDB e prestígio político  5x1y4w

Quem chega com mais prestígio ao terceiro mandato de Lula é Helder Barbalho, do Pará. No governo Bolsonaro, ele seguiu uma linha oposta ao do desmonte da agenda ambiental, mas não tendo força suficiente para reduzir os crimes ambientais no estado, o que manteve o Pará no topo do ranking do desmatamento. 

Chegando ao grupo de governadores da Amazônia Legal pela primeira vez, o governador eleito do Amapá, Clécio Luis, também terá certo prestígio diante do governo federal. Apesar de Bolsonaro ter virado votos no Amapá no segundo turno, Clécio fez campanha para Lula. O grande ativo ambiental do estado, com pouco desmatamento, também o gabarita para chegar com moral nas negociações ambientais. 

Para o cientista político Israel Souza, do Instituto Federal do Acre (Ifac), a derrota de Jair Bolsonaro representa o fim da referência do bolsonarismo nos estados. “Os governos locais conquistados  pelo bolsonarismo não vão ter vez com o governo federal se continuarem a radicalizar. Eles vão dispensar verbas, parcerias? Qual governo local consegue se sustentar sem o federal?”, aponta Souza. 

Na análise do cientista político, a política ambiental brasileira já foi reconfigurada antes mesmo da posse de Lula. A sinalização da Noruega e Alemanha de voltarem a colocar verbas no Fundo Amazônia é um dos sinais disso. Dessa forma, completa ele, os governadores da região amazônica também precisam se adaptar.

  • Fabio Pontes 4w3u17

    Fabio Pontes é jornalista com atuação na Amazônia, especializado nas coberturas das questões que envolvem o bioma desde 2010.

Leia também 321u5e

Notícias
27 de setembro de 2022

Maioria dos governadores bolsonaristas será reeleita na Amazônia Legal 4w212g

A manutenção do apoio político ao bolsonarismo nos estados da Amazônia é um desafio para preservação do bioma

Notícias
28 de agosto de 2022

Fórum de Governadores da Amazônia: boas intenções, poucos resultados 2l3h2w

Na visão de muitos políticos locais, o fortalecimento do agronegócio consiste apenas em fragilizar os mecanismos de proteção ambiental

Notícias
4 de agosto de 2014

Se ganhar, Helder Barbalho pode reduzir Unidades de Conservação no Pará 23851

Candidato ao governo do Estado, herdeiro de Jader Barbalho se compromete em revisar os limites de 5 áreas protegidas da região da Calha Norte

Mais de ((o))eco 731g2p

eleições 2022 473l1q

Podcast

Entrando no Clima #27: Fake news climática e voto dissonante com a realidade 2hz70

Reportagens

Maioria dos deputados mais antiambientais da Câmara se reelegeram 1m2ui

Salada Verde

Três ex-ministros do meio ambiente e um defensor de hidrelétricas na transição de Lula 5mp4h

Reportagens

Lula anuncia ao mundo Ministério dos Povos Originários em discurso no Egito 2i2c6y

amazônia 4f4r5n

Salada Verde

Justiça encaminha inspeção em pedral no Rio Tocantins que pode ser explodido 724e1o

Notícias

Morre Dalton Valeriano, responsável por modernizar o monitoramento do desmatamento no país 4l5f2k

Colunas

O segredo mais bem guardado da política climática brasileira 2y32

Notícias

Onda de apoio a Marina Silva após ataques sofridos no Senado une ministras, governadoras e sociedade civil 4k1r1x

ICS 4c5154

Notícias

Até 85% da extração planejada pela Petrobras pode não gerar lucro, mostra estudo 61313j

Salada Verde

Organizações brasileiras pedem que Lula deixe de comercializar petróleo para Israel 3e8w

Salada Verde

Na ONU, Lula pede por mais proteção aos oceanos para combater mudanças climáticas 182e49

Análises

Governo do RS ignora perda anual de vegetação campestre para comemorar a ilusão do Pampa conservado 40b11

política ambiental 6s6rm

Análises

O falso herói dos mares: por que o GNL ameaça os oceanos e o futuro do Brasil? b1j24

Salada Verde

Deputado do PL é novo relator do Projeto de Lei do Licenciamento 3d5s57

Salada Verde

PL que institui programa nacional de recuperação da Caatinga avança na Câmara 4c5i2y

Salada Verde

MPF tenta suspender na justiça leilão de petróleo na Foz do Amazonas l4i16

Deixe uma respostaCancelar resposta 4b3e52

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.