Seis horas de caminhada pela mata fechada até se aproximar dos espetaculares 156 metros de queda d’água da Boca da Onça, maior cachoeira do Mato Grosso do Sul. E então, quando se está ali, curtindo o isolamento em estado de plena natureza, algo acontece.
Surge no céu um helicóptero. Depois outro, e mais muitos outros, num inesperado ataque aéreo aos céus do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, a cerca de 30 km de Bonito.
O biólogo e fotógrafo Daniel de Granville (foto acima) observava aves no entorno do Parque quando testemunhou esta cena surpreendente. Na verdade, como estava cercado de mata fechada, não conseguiu contabilizar o número de aeronaves que sobrevoaram a área. Parecia sempre a mesma, ando várias vezes. Mas assim que encontrou um funcionário da fazenda onde fica a cachoeira, teve a confirmação de que não foi um delírio. “É um rally de helicópteros”, disse o bem informado peão.
De fato, 82 empresários de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal juntaram suas 18 máquinas voadoras no início de julho para percorrer paisagens naturais, na segunda versão de um evento aéreo batizado de “Redescoberta do Brasil”. A partida foi em Goiânia, capital de Goiás, no dia 2 de julho e a chegada justamente em Bonito, no dia 10, após ter percorrido Brasília, Pirenópolis, Chapada dos Guimarães e Corumbá. Em 2004, foram 40 participantes em oito helicópteros.
“Sei que foi um fato isolado, mas se esta atividade vier a crescer, gerará um sério conflito de interesses”, diz Daniel, que como bom amante da natureza, preza a tranqüilidade para homens e bichos. O que definitivamente não combina com barulhentos e ventosos vôos rasantes. Ainda mais num Parque Nacional. “Acredito estar me antecipando e dando o alerta para que Bonito pense nesta questão antes que a situação fuja de controle. Dá para conciliar contemplação de natureza com helicópteros? Caso positivo, ótimo. Se não, quem terá prioridade? O que é melhor para a população, para o ambiente, para os visitantes">pato-mergulhão, espécie ameaçada de extinção que vive na área“, conta Daniel, que faz questão de frisar que é a favor do desenvolvimento, “desde que feito de maneira ordenada e criteriosa”.
Enquanto os dois aviões semanais que chegam a Bonito podem ser proibidos de operar por falta de licença ambiental do aeroporto, sobre vôos de helicóptero na região não há qualquer regulamentação. Seria possível restringir o trânsito de aeronaves sobre o Parque Nacional da Serra da Bodoquena simplesmente estabelecendo essas regras no plano de manejo. Mas como o Parque ainda não tem plano de manejo, a paz na floresta continua a critério do bom senso dos donos de helicópteros.
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