Notícias

Com mudanças de última hora, projeto-bomba do Licenciamento é aprovado no Senado 2u4m5r

Texto agora segue para segunda apreciação pela Câmara dos Deputados. Caso vire lei, medida vai tornar mais maleáveis as normas para licenças ambientais

Cristiane Prizibisczki ·
21 de maio de 2025

O Senado Federal aprovou, na noite desta quarta-feira (21), por 54 votos a 13, o projeto de lei que flexibiliza radicalmente o licenciamento ambiental no País. Posicionamento do Ministério do Meio Ambiente é de que a norma viola a Constituição Federal. Uma área maior do que o território da Grécia fica imediatamente sob ameaça de desmatamento, alertam organizações da sociedade civil.

A votação do Projeto de Lei  nº 2159/21 só foi possível após insistência do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).  Prevista para ser iniciada às 14h, ela só começou de fato a ser analisada depois das 18h, após Alcolumbre convocar de forma recorrente a presença dos senadores no plenário. Agora, o texto será encaminhado para segunda apreciação pela Câmara dos Deputados, de onde é originário.

Ao longo da tarde, Alcolumbre repetiu o discurso, alinhado à ala ruralista do Congresso, de que o licenciamento ambiental em vigor atualmente “atravanca o desenvolvimento do Brasil”. 

“É empenho desta presidência deliberar este assunto, este projeto de lei. Entendendo a necessidade e compreendendo o ponto de vista até dos contrários, mas vamos saber se a ampla maioria deseja ou não ajudar o Brasil a se desenvolver”, disse o presidente do Senado, antes da votação.

No final da tarde, o Ministério de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas chegou a publicar uma nota afirmando que o PL representa “desestruturação significativa” do regramento existente sobre o tema e representa risco à segurança ambiental e social em território brasileiro.

O ministério também destacou em sua manifestação que a norma afronta diretamente a Constituição Federal, que no Artigo 225 garante aos cidadãos brasileiros o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

“A proposta terá impacto negativo para a gestão socioambiental, além de provocar, possivelmente, altos índices de judicialização, o que tornará o processo de licenciamento ambiental mais moroso e oneroso para a sociedade e para o Estado brasileiro”, argumentou o MMA na nota.

Em seu discurso, a relatora da matéria no plenário, senadora Teresa Cristina (PP-MS), disse que as declarações de que a norma enfraquece o licenciamento ambiental são “narrativas ideológicas de pura má fé”.

“Hoje é um dia muito especial, vamos enfim votar o novo marco do licenciamento ambiental. (…) vamos poder licenciar com mais clareza, eficiência e justiça. (…) Não é mais possível conviver com esse ambiente caótico, nós não podemos mais travar o desenvolvimento nacional”, pontuou a parlamentar. 

Enxurrada de emendas 2y25e

O Projeto de Lei (PL) 2159/21 recebeu várias emendas de última hora, 45 delas somente nesta quarta-feira. Uma delas foi adicionada pelo próprio presidente da Casa: cria uma modalidade de “Licença Ambiental Especial” e dá à autoridade licenciadora o poder de decidir a prioridade na avaliação de atividades ou empreendimentos considerados estratégicos.

Segundo a rede de organizações do Observatório do Clima, a emenda – incorporada ao texto final do relatório da senadora Tereza Cristina com pequenas modificações – desestrutura o processo de licenciamento ao submeter o sistema de análise a pressões e interesses políticos, inclusive com prejuízo aos empreendedores que entraram com pedido de licenciamento anterior.

“Significa que as análises ficam à mercê das vontades políticas e prejudicam aqueles que estão na fila para terem seus processos analisados. Ainda enfraquece o Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente), ao o que o Conselho de Governo irá ditar a formulação de política nacional e diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais”, publicou o Observatório.

Segundo Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), “a técnica de inserir ‘jabutis’ em projetos de lei é fato conhecido no Brasil, mas no presente caso inseriram uma manada. A resolução para os gargalos históricos do licenciamento, decorrente de falta de pessoal e de estrutura dos órgãos ambientais, foi resolvida da forma mais simples: medidas para banir regras, para simplificar e prover meios rápidos de autolicenciamento”.

Além disso, diz Bocuhy, “a proposta da Lei Geral do Licenciamento Ambiental transborda inconstitucionalidade. Mina o princípio da gestão participativa, da participação social, ao excluir do rito a obrigatoriedade de licenciamento participativo em empreendimentos impactantes que afetarão comunidades e o meio ambiente. De outro lado, a simplificação do rito de licenciamento irá desconsiderar os aspectos sinérgicos e cumulativos de empreendimentos colocalizados, sem percepção prévia dos impactos que serão gerados”.

Tramitação  3a4u3u

A versão original da Lei Geral do Licenciamento tramita no Congresso há 21 anos. Segundo organizações da sociedade civil, o texto original não era negativo, mas, ao longo dos anos, foi sofrendo modificações que podem fragilizar o processo de licenciamento ambiental no País.

Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a proposta avançou na Câmara, onde estava parada, tendo sido aprovada em maio de 2021 pelos deputados, sob o número PL 3729/04.

No Senado, a proposta foi analisada ao mesmo tempo, na terça-feira (20), nas comissões de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e de Meio Ambiente (CMA). 

Os relatores das comissões, respectivamente, Tereza Cristina (PP-MS) e Confúcio Moura (MDB-RO), emitiram um texto comum para a proposta. A costura entre os relatores e a pressão da bancada ruralista agilizou o envio ao Plenário, com apreciação em regime de urgência.  

Impactos 5f4h27

O texto aprovado hoje no Senado traz mudanças significativas nas regras atuais do licenciamento que, na prática, enfraquecem a proteção a indígenas, quilombolas e unidades de conservação, criam amplas possibilidades de procedimentos autodeclaratórios, de dispensa de licenciamento e de renovações automáticas, minimizam condicionantes ambientais e abrem possibilidade para que estados e municípios possam definir, sem coordenação nacional, as atividades que devem – e, principalmente, que não devem – ar por licenciamento ambiental. 

Análise realizada pelo Instituto Socioambiental conclui que a aprovação da norma “resultará no aumento do desmatamento e degradação ambiental nas áreas protegidas em níveis que impedirão o Brasil de cumprir suas metas assumidas em acordos internacionais relacionados ao combate ao desmatamento e proteção da biodiversidade”.

  • Cristiane Prizibisczki 382215

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

Leia também 321u5e

Salada Verde
21 de maio de 2025

Veja como votou cada senador no projeto que implode o licenciamento ambiental 2a3d6l

Aprovada no Senado na noite desta quarta-feira (21), proposta segue para análise da Câmara

Reportagens
20 de maio de 2025

Projeto que reduz licenciamento ambiental a em comissões do Senado e vai ao plenário 221r4w

PL 2159/21 prevê autorização autodeclaratória e menos proteção a povos tradicionais e unidades de conservação. “Implosão”, define o Observatório do Clima

Salada Verde
13 de agosto de 2021

Novo marco do licenciamento será analisado pelas comissões antes de ir à plenário q571z

Após reunião entre os presidentes do Senado e das Comissões de Meio Ambiente e Agricultura e relatoria, ficou acordado que texto será analisado com mais calma

Mais de ((o))eco 731g2p

lei geral do licenciamento 1i4l3g

Salada Verde

Em pronunciamento, Marina Silva sai em defesa do Licenciamento Ambiental 5i581i

Salada Verde

Coalizão com setores privado e financeiro engrossa coro contra o PL da Devastação 3i402x

Fotografia

Galeria: Veja como foram os atos contra o PL da Devastação 13k5v

Salada Verde

Sociedade civil protesta contra PL que quer acabar com o licenciamento 22t3y

unidades de conservação 3z1l1m

Notícias

Ave criticamente em perigo de extinção, soldadinho-do-araripe ganha um refúgio 53212b

Notícias

Governo cria três novas unidades de conservação na Mata Atlântica 3k5312

Reportagens

Como as unidades de conservação podem resistir à crise climática? 1f5b2k

Reportagens

O adeus de Niède Guidon, a matriarca da Serra da Capivara 3d4u13

política ambiental 6s6rm

Salada Verde

Em pronunciamento, Marina Silva sai em defesa do Licenciamento Ambiental 5i581i

Análises

Governo do RS ignora perda anual de vegetação campestre para comemorar a ilusão do Pampa conservado 40b11

Colunas

ONU reúne 2 mil cientistas para transformar conhecimento em ações políticas para o oceano 3g4b6j

Notícias

Ibama vai receber R$ 825,7 milhões do Fundo Amazônia para combate ao desmatamento 234a1k

desmatamento 6u4cq

Análises

Governo do RS ignora perda anual de vegetação campestre para comemorar a ilusão do Pampa conservado 40b11

Notícias

Ibama vai receber R$ 825,7 milhões do Fundo Amazônia para combate ao desmatamento 234a1k

Notícias

Morre Dalton Valeriano, responsável por modernizar o monitoramento do desmatamento no país 4l5f2k

Colunas

O segredo mais bem guardado da política climática brasileira 2y32

Deixe uma respostaCancelar resposta 4b3e52

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 1 n1g4z

  1. marcellonicola diz:

    Ainda resta o Lula para vetar (ao menos parcialmente) e o STF pra cortar as insconstitucionalidades mais flagrantes