Notícias

A pressa para catalogar espécies de insetos antes que sejam extintas 2k2m54

Editores de 𝘐𝘯𝘴𝘦𝘵𝘰𝘴 𝘥𝘰 𝘉𝘳𝘢𝘴𝘪𝘭, professores pesquisadores da UFPR estimam que há mais espécies para serem descobertas do que as mapeadas até agora

Livia Inacio ·
8 de novembro de 2024
  • Publicado originalmente por Ciência UFPR 3e4k1i

Classificar a imensa gama de insetos do Brasil é um verdadeiro trabalho de formiguinha. O desafio começa com a diversidade dessa classe, que abraça 73% das 125 mil espécies de animais registradas no país. O número impressiona, mas não para por aí: se todas as espécies de insetos brasileiros fossem identificadas, sua quantidade saltaria quase cinco vezes, resultando em algo próximo de 500 mil. Em outras palavras: há muito a ser descoberto nesse campo.

Isso é o que mostra a segunda edição do livro Insetos do Brasil — Diversidade e Taxonomia, publicado este ano pela Editora Inpa, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. A obra de 880 páginas, com artigos de 97 entomologistas (pesquisadores de insetos), teve a coordenação de dois professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR): Gabriel Augusto Rodrigues de Melo e Claudio José Barros de Carvalho, ambos do Departamento de Zoologia.

Ao lado dos pesquisadores José Albertino Rafael, do Inpa; Sônia Casari, da Universidade de São Paulo (USP); e Reginaldo Constantino, da Universidade de Brasília (UnB), os entomólogos do Setor de Ciências Biológicas se dedicaram à atualização do livro publicado em 2012, que levou dez anos para ser elaborado e descreveu todos os insetos brasileiros descobertos até então.

A primeira grande sistematização dos insetos do Brasil foi feita pelo médico e entomologista Ângelo Moreira da Costa Lima, entre os anos 1950 e 1960. Considerado o pai da entomologia brasileira, o pesquisador fluminense morreu sem conseguir mapear todas as ordens de insetos, deixando um legado, mas também uma missão às próximas gerações de pesquisadores.

Ao assumir essa empreitada, há mais de duas décadas, os pesquisadores da UFPR e seus colegas se propam a criar um mapa taxonômico parecido com o livro The Insects of Australia, obra minuciosa e didática publicada pela primeira vez nos anos 1970 e atualizada em 1991.

Tendo a segunda maior coleção entomológica do Brasil, fundada por Padre Jesus Santiago Moure, e uma expertise de décadas no assunto, a UFPR foi peça-chave nesse mapeamento, realizado em duas edições, uma em 2012 e outra em 2024.

“Provavelmente, um próximo livro que saia daqui a dez anos tenha ainda mais espécies. Acabamos de encontrar uma nova na casa onde viveu Padre Moure. Olha só que ironia!”, diz Melo. “Mas a terceira edição com certeza será mais fácil para todos nós, devido ao acúmulo de conhecimento que temos sedimentado”, acrescenta.

Catalogação é uma corrida contra o tempo 635h3c

(Clique para ampliar | Baixe em pdf)

Conhecidos na literatura científica como hexápodes, por terem seis patas, os insetos são fundamentais para o equilíbrio ecológico, mas muitos podem desaparecer sem sequer terem sido identificados, diz Melo.

Segundo o professor, a velocidade com que os ecossistemas estão sendo destruídos vem se acelerando nos últimos anos em todos os biomas, comprometendo a diversidade das espécies nativas.

O entomólogo cita o exemplo do Cerrado, cujo grau de devastação é maior que o da Amazônia, devido à expansão agrícola. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que, só entre 2022 e 2023, o desmatamento no Cerrado cresceu 16,5%.

Além dos problemas ambientais, essa dificuldade também é perada pela escassez de taxonomistas especializados em entomologia e de recursos financeiros destinados à formação desses profissionais. Nessa corrida contra o tempo, Melo espera que cada vez mais gente comece a valorizar a natureza ultraando qualquer viés utilitário.

“Precisamos recuar da visão imediatista que enxerga os recursos naturais com base no que eles podem nos oferecer. O certo é a gente criar uma visão mais contemplativa, de apreciação da natureza pela natureza. Porque se isso acaba, vai ser caro ou impossível restaurar”.

  • Livia Inacio 176xy

    Jornalista em Curitiba. Foi trainee de Ciência e Saúde da Folha e já colaborou com UOL, Mina Bem-Estar, BBC e o podcast Ciência Suja, que investiga crimes contra a ciência. Trabalha no setor de Ciências Biológicas da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Leia também 321u5e

Colunas
7 de dezembro de 2018

Cadê os insetos que estavam aqui? 76y5p

Há uma diminuição na quantidade de insetos no mundo e o efeito desse desaparecimento pode ter implicações sobre toda a vida na Terra, da planta ao homem

Reportagens
25 de fevereiro de 2022

Saúvas surgiram há 8,5 milhões de anos e podem ter se beneficiado da expansão do Cerrado, indica estudo n332d

Explosão de novas espécies teria ocorrido entre um e três milhões de anos atrás, quando o bioma brasileiro se ampliava. O recente avanço da agropecuária na região, porém, parece estar reduzindo essa biodiversidade e selecionando espécies prejudiciais para a agricultura

Notícias
22 de outubro de 2020

Morre Sérgio Vanin, entomólogo e professor da USP 2s2e55

O pesquisador faleceu na madrugada de quarta-feira (21). Ex-diretor do Museu de Zoologia da USP, Vanin se destacou por suas pesquisas na área da entomologia junto à Universidade de São Paulo

Mais de ((o))eco 731g2p

Entomologia 4c5x5s

Reportagens

Saúvas surgiram há 8,5 milhões de anos e podem ter se beneficiado da expansão do Cerrado, indica estudo n332d

Notícias

Morre Sérgio Vanin, entomólogo e professor da USP 2s2e55

Colunas

Cadê os insetos que estavam aqui? 76y5p

Reportagens

O grilo-gigante e o acervo perdido do Museu Nacional 43p41

biodiversidade 2gf42

Reportagens

Como tirar do papel a nova estratégia de conservação do Brasil? 44l4

Notícias

Ave criticamente em perigo de extinção, soldadinho-do-araripe ganha um refúgio 53212b

Reportagens

Como as unidades de conservação podem resistir à crise climática? 1f5b2k

Notícias

Estudo aponta multiplicação preocupante do peixe-leão no litoral brasileiro 2tfb

insetos 485f6b

Reportagens

A história de um besouro praiano e o que ela nos conta sobre a poluição costeira 5t2y5s

Salada Verde

De olho nas formigas: ICMBio convida sociedade a ajudar na coleta de dados sobre espécies 1i124n

Notícias

Uma libélula sertaneja: pesquisadores encontram nova espécie em Minas 122n59

Notícias

Mudanças na paisagem afetam vespas e abelhas, diz estudo 1o623y

conservação 2e5c26

Colunas

Comunicação indígena é decisiva para a conquista de direitos e a defesa do meio ambiente  n917

Reportagens

Como tirar do papel a nova estratégia de conservação do Brasil? 44l4

Colunas

Chefes de Estado prometem atuar pela proteção dos oceanos  5u2s27

Reportagens

Licenciamento forte pode reduzir a perda de espécies e os prejuízos em negócios 2o1k5h

Deixe uma respostaCancelar resposta 4b3e52

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.